Catequese e Pessoas com Deficiência – Novo Diretório para a Catequese (2020)

Divulgamos os números do Novo Diretório para a Catequese que refletem a preocupação da Igreja com as pessoas com deficiência.

Catequese com as pessoas com deficiência

 8 Com a Segunda parte (O processo da catequese) entra-se no cerne da dinâmica catequética. Apresenta-se, antes de mais, o paradigma de referência que é a pedagogia de Deus na história da salvação, que inspira a pedagogia da Igreja e a catequese enquanto ação educativa (Capítulo V). À luz deste paradigma, os critérios teológicos para o anúncio da mensagem evangélica são reorganizados, tornando-os mais adequados às exigências da cultura contemporânea. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica é apresentado no seu significado teológico-catequético (Capítulo VI). O Capítulo VII apresenta algumas questões acerca do método na catequese com referências, entre outras coisas, ao tema das linguagens. A segunda parte encerra com a apresentação da catequese com os diversos interlocutores (Capítulo VIII). Mesmo com a consciência de que as condições culturais no mundo são muito diferentes e que, portanto, é necessário fazer pesquisas a nível local, pretendeu-se, no entanto, fornecer uma análise das caraterísticas gerais desta ampla temática, acolhendo o eco dos Sínodos sobre a família e sobre os jovens. Por fim, o Diretório convida as Igrejas particulares a prestar atenção à catequese com as pessoas com deficiência, com os imigrantes e os emigrantes, com os reclusos.

VI.Catequese com as pessoas com deficiência

 

  1. A solicitude da Igreja para com as pessoas com deficiência brota do agir de Deus. Seguindo o princípio da encarnação do Filho de Deus, o qual se torna presente em cada situação humana, a Igreja reconhece nas pessoas com deficiência o chamamento à fé e a uma vida boa e cheia de significado. O tema da deficiência é de grande importância para a evangelização e para a formação cristã. As comunidades são chamadas não só a cuidar dos mais frágeis, mas a reconhecer a presença de Jesus que neles se manifesta de modo especial. Isto «requer uma dupla atenção: a consciência da educabilidade para a fé da pessoa com deficiência, até grave e gravíssima; e a vontade de a considerar um sujeito ativo na comunidade em que vive»[1]. Infelizmente, a nível cultural, está difusa uma conceção da vida, muitas vezes narcisista e utilitarista, que não capta a multiforme riqueza humana e espiritual nas pessoas com deficiência, esquecendo-se que a vulnerabilidade pertence à essência do homem e não impede que sejam felizes e se realizem a si mesmas[2].

 

  1. As pessoas com deficiência constituem uma oportunidade de crescimento para a comunidade eclesial que, com a sua presença, é incentivada a superar os preconceitos culturais. Na verdade, a deficiência pode causar incómodo, porque coloca em evidência a dificuldade de acolher a diversidade; pode mesmo suscitar medo, especialmente se for marcada por um caráter de permanência, porque é uma referência à situação radical de fragilidade de cada um, que é o sofrimento e, em última análise, a morte. Justamente por serem testemunhas das verdades essenciais da vida humana, as pessoas com deficiência devem ser acolhidas como um grande dom. A comunidade, enriquecida pela sua presença, fica mais consciente do mistério salvífico da cruz de Cristo e, vivendo relações recíprocas de acolhimento e solidariedade, torna-se geradora de uma vida boa e sinal para o mundo. Por este motivo, a catequese deverá ajudar os batizados a ler o mistério da dor humana à luz da morte e ressurreição de Cristo.

 

  1. Compete às Igrejas locais abrir-se ao acolhimento e à presença habitual das pessoas com deficiência no âmbito dos percursos de catequese, marcando posição a favor de uma cultura da inclusão contra a lógica do descarte. As pessoas com deficiências intelectuais vivem a relação com Deus na imediatez da sua intuição e é necessário e honroso acompanhá-las na vida de fé. Isso exige que os catequistas procurem novos canais de comunicação e métodos mais adequados para favorecer o encontro com Jesus. Por isso, são úteis as dinâmicas e linguagens de tipo experiencial que impliquem os cinco sentidos e percursos narrativos capazes de envolver todos os sujeitos de maneira pessoal e significativa. Em vista deste serviço, é bom que alguns catequistas recebam uma formação específica. Os catequistas devem estar próximos também das famílias de pessoas com deficiência, acompanhando-as e favorecendo a sua plena inserção na comunidade. A abertura destas famílias à vida é um testemunho que merece grande respeito e admiração[3].

 

  1. As pessoas com deficiência são chamadas à plenitude da vida sacramental, mesmo quando se trata de distúrbios graves. Os sacramentos são dons de Deus e a liturgia, ainda antes de ser compreendida racionalmente, pede para ser vivida: portanto, ninguém pode recusar os sacramentos às pessoas com deficiência. A comunidade que sabe descobrir a beleza e a alegria da fé de que estes irmãos são capazes torna-se mais rica. Por isso, é importante a inclusão pastoral e o envolvimento na ação litúrgica, especialmente dominical[4]. As pessoas com deficiência podem realizar a dimensão alta da fé que compreende a vida sacramental, a oração e o anúncio da Palavra. Efetivamente, elas não são apenas destinatárias de catequese, mas protagonistas de evangelização. É desejável que elas mesmas possam ser catequistas e transmitir a fé de modo mais eficaz, com o seu testemunho.

 

 

[1] Francisco, Discurso aos participantes no Congresso para pessoas portadoras de deficiência (11 de junho de 2016).

[2] Cf. Francisco, Discurso aos participantes no Congresso «A catequese e as pessoas portadoras de deficiência» (21 de outubro de 2017).

[3] Cf. AL 47.

[4] Cf. Bento XVI, Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de 2007), 58.

 

Consulte o Novo Diretório para a Catequese aqui.  

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